Que A Maldição da Residência Hill foi uma febre na internet, ninguém tem dúvidas. Agora conectar o público com seu drama familiar, foi a jogada de mestre que pegou todos de surpresa.
E que a verdade seja dita, apesar do terror ser o queridinho por muitos, ainda assim é um gênero subestimado. Até porque muitos estúdios vendem a idéia de que o bom filme de terror é aquele recheado de jumpscare. Quando na realidade uma boa história que cause sensações desconfortáveis é que o torna memorável.
Graças a Deus existem diretores que abraçam a causa e se comprometem a entregar um material profundo e que cause uma autorreflexão. E Mike Flanagan é um deles – Hush, a Morte Ouve (2016) e Jogo Perigoso (2017). E se tem uma característica marcante deste diretor é entregar uma experiência e não uma simples história.
E A Maldição da Residência Hill fez exatamente isso, tornou o público uma espécie da analista da mente humana ao abordar traumas e superações, com a metáfora da casa assombrada e seus fantasmas.
E como precisamos falar sobre a série, já adianto que o post está recheado de spoiler. Afinal precisamos descobrir que a história tem a nos dizer. Sendo assim, #PartiuReview.
A Maldição da Residência Hill | Onde Tudo Começou
E a nossa história começa quando a família Crain se mudam para a fatídica residência Hill. Afinal o ganha pão do casal Olivia (Carla Gucino) e Harry (Henry Thomas) era baseado na compra e reformas de casas antigas, para em seguida vende-las pelo valor de mercado. Logo, o plano inicial era ficarem apenas 8 semanas, até a conclusão deste projeto.
Mas infelizmente uma sequência de contratempos começaram a surgir e junto deles, fenômenos estranhos. Inclusive muitos eram percebidos apenas pelos filhos, especialmente os gêmeos Luke e Nell que viam com frequência as figuras horripilantes – como o homem comprido e a mulher do pescoço torto, respectivamente.
E quanto mais estas aparições ganhavam força, mais a rotina dos Crain era afetada. Até o dia da “última noite” que resultou na fuga do pai com os filhos, e na morte de Olivia na casa. Fato este que deixou muitos sem respostas e que refletiu fortemente em suas vidas, principalmente na fase adulta dos filhos de Harry.
A Maldição da Residência Hills: Seus Personagens
A narrativa da série alterna entre o passado e o presente, com a entrega elementos-chave, traçando assim, o perfil psicológico de cada um. Afinal, não é porque nossa mente é uma caixinha de surpresas que não precisamos entende-la, não é verdade? Confira abaixo as principais características de cada um:
- Stevie: tornou-se um escritor sensacionalista de eventos paranormais, como uma espécie de auto aprovação. O fato de seus irmãos terem visto fantasma e ele não, causou um sentimento de exclusão. Então a única maneira de se sentir-se bem, era provando que nem tudo estava relacionado a fenômenos paranormais.
- Shirley: virou uma agente funerária. E tudo se deve ao momento mais difícil de sua vida, a morte de sua mãe, que foi confortada por um agente funerário, quando garotinha. Desta forma, em seu subconsciente, ela queria transmitir a mesma paz e segurança a todos aqueles sofrem com a dor da perda de um ente querido.
- Theodora: tonou-se uma terapeuta infantil, como forma de dar voz às crianças que eram desacreditadas pelos pais – devido experiência semelhante com seus irmãos. Inclusive seu dom de descobrir tudo através do toque, era sua arma secreta para ajudar seus pacientes incompreendidos.
- Luke: tonou-se um dependente químico como forma de esquecer tudo aquilo que viveu na casa. Afinal, ele e Nell foram os que mais viram os fantasmas de perto. Sendo assim,ele tinha as drogas como uma válvula de escape, para não reviver todo o sofrimento.
- Nell: a única que admitia abertamente não ter superado seus traumas. E apesar de tratar de sua depressão e distúrbio do sono, era a mais forte dentre eles. Pois era a única que encarava seus problemas como forma de descobrir a solução. Mesmo que para isso precisasse voltar à casa responsável por tudo.
É diante deste raio-x dos irmãos Crain que percebemos a extrema necessidade de descobrirem o que realmente aconteceu na última noite da casa e porque seu pai não tocava no assunto até hoje. Ou seja, a ferida.
A Maldição da Residência Hill e Sua Metáforas…
Se engana quem pensa que o foco principal da série era apenas uma casa mal-assombrada, mas sim a metáfora de como o ser humano lida com a vida. E não existe melhor forma de debater sobre isso, analisando-as. Confira algumas delas e vamos conversar sobre cada uma.
1 – O Quarto Misterioso
Apesar do coração da casa está no quarto misterioso que mudava de forma, aqui ele representava a válvula de escape que a maioria de nós usamos para nos sentirmos seguro. Afinal, é comum o ser humano usar a fuga como mecanismo de autodefesa.
Além disso, a série abordava como o local representava algo de especial a cada um dos deles. Assim, ele assumia as seguintes formas:
- A casa da árvore do Luke: onde ele se sentia seguro e confiante
- A sala de dança de Theodora: que esquecia por alguns momentos o peso de carregar um dom que a assustava.
- O quarto de jogos de Steve: que representava a sua necessidade em ser útil e completar missões, mesmo que através de um jogo.
- O quarto de leitura de Olivia:que era o momento que ela esquecia de sua auto cobrança no papel de mãe e esposa. Só que ao invés de refletir sobre tudo, ela mergulhava nas histórias dos livros – fugindo um pouco de sua realidade.
Vale lembrar que a janela do quarto além de ser uma pista de que se tratava do quarto misterioso, ela simbolizava os sinais que a vida mostra, mas que ninguém consegue enxerga-la, por medo de encarar a realidade.
Diante disso, observamos que quanto mais vulnerável a família ficava, mais o quarto transformava-se no conforto passageiro de cada um. E trazendo à nossa realidade, vemos o quanto isso é perigoso, principalmente nas mãos de pessoas de má fé, que se aproveitam desses momentos delicados. Sendo assim, cuidado!!!!
2 – O Perfil de Cada Personagem
Quando analisamos o perfil de cada um dos filhos, observamos o quanto é comum o bloqueio mental de nossos traumas e o quanto nocivo ele se torna, quando é ignorado.
Inclusive na série percebemos duas atitudes que vemos com frequência em cotidiano: a auto sabotagem e a transferência de responsabilidade. Inclusive, você reparou o quanto os irmãos culpam uns aos outros quando algo de ruim acontece? Diferente de quando eram crianças, que eram unidos e sentiam a necessidade de proteger um ao outro.
Apesar de quase imperceptível, foi proposital. Mostrando aqui que o isolamento além de ser uma das consequências de traumas não tratados, é uma espécie de autoafirmação – acreditando que pode lidar com os problemas sozinho. Ao ponto de achar que o problema do próximo não é tão importante quanto o seu.
Logo as questões mal resolvidas resultaram na separação dos Crain e em uma espécie de egoísmo, exceto Nell que se importava com todos. Inclusive, falando nela…
3 – A Morte de Nell e Sua Importância
Confesso que é uma das minhas personagens favoritas, porque ao mesmo tempo que você enxerga sua fragilidade, você vê o quanto ela é forte. Afinal, sofrer de depressão e distúrbio do sono, é algo que muda totalmente a forma como você enxerga o mundo.
E apesar dessas limitações, Nell não deixou em nenhum momento de ser a irmã amorosa e que se importava com seus irmãos – algo que não foi percebido por eles. Vale lembrar que de todos, era única que tinha coragem de encarar de frente seus traumas para solucioná-los.
Ao ponto de voltar à casa e pôr um fim nisso e seguir em frente. Mas infelizmente o plano acabou dando errado, pois tornou-tornou-se mais uma vítima da maldição da casa – em partes. Porque ela não ficou presa como os demais fantasmas. Assim, sua morte representou sua libertação.
E logo que Nell descobre o foco do problema, ela viu a necessidade de ajudar seus irmãos, e mostrar toda a verdade. É amor incondicional que se diz né?
4 – Os Dudley e o Medo da Verdade
Se de um lado tivemos Nell que representava a força em enfrentar os problemas, do outro tínhamos os Dudley que preferiam não falar sobre eles. Essa atitude até seria compreensível, se fosse por uma questão de respeito e não bloqueando suas vidas.
Inclusive essa postura serviu como uma alerta das consequências de quando se esconder um perigo. Afinal os dois tentaram de todas as formas protegerem-se, mas de nada adiantou, pois resultou na morte de sua filha Abigail. Inclusive foi uma das cenas mais tristes e que pegou todos de surpresa.
Mais uma vez temos aqui o peso da culpa dos pais em não consiguirem proteger seus filhos da crueldade do mundo.
5 – Os Fantasmas da Casa e Seu Real Significado
É inegável que aqui os fantasmas da residência Hill, representavam os medo, os traumas e as crenças limitantes que assombraram os filhos até hoje. E por mais que tenham seguido caminhos diferentes, acabavam andando em círculos e de volta a raiz do problema – a casa.
Inclusive você reparou que a assombração se concentrava em Olivia, Nell e Luke? E tudo isso porque de todos os três eram os mais vulneráveis. Principalmente Olivia, que tinha medo em falhar em seu papel de mãe e não proteger seus filhos. Só que ao invés de combater este medo, acabou profetizando sua falha ao entrar em desespero.
O que na vida não é muito diferente, até porque quanto mais focados no desespero ficamos, mais esquecemos de encontrar a solução, deixando-nos vulneráveis e concretizando aquilo que mais tememos.
Diferente de Nell que sabia que o único caminho da libertação, era enfrentar o problema e digeri-lo. Ela tinha noção de que seu bem-estar dependia apenas dela mesma e de mais ninguém.
Outro ponto interessante e que a série mostra a importância de pedir ajuda e não guardar os problemas para si, caso contrário vira um efeito bola de neve – como aconteceu com Olivia. Diferente de Nell que tinha ciência que sua vulnerabilidade vinha pela falta de respostas e não por omissão – tanto que ela não hesitava em pedir ajuda. Fica aqui a lição.
6 – A Morte de Olivia e Harry Crain: O Que Representa Afinal?
Enquanto a morte de Nell representou a libertação, a de Olivia e Harry representou sacrifícios feito pelo amor. E por mais triste que tenha sido, mostrou que quem ama se sacrifica.
E especialmente Harry Crain que se sacrificou tentando cumprir seu papel de pai, em dois momentos:
- Ao esconder a verdade sobre a última noite: responsável pela maior parte dos conflitos entre os Crain
- E ao entregar a verdade para proteger seus filhos: quando decidiu ficar com Olivia na casa.
E novamente temos aqui o debate sobre escolhas e consequências. Além disso. Será que você faria diferente?
Sendo assim, A Maldição da Residência Hill vai muito além de uma série de terror, mas uma análise do comportamento humano diante de seus traumas. Inclusive seus personagens são tão próximos da realidade que você consegue se enxerga em alguns deles.
Inclusive Nell foi campeã em despertar a empatia em muitos de nós. Afinal sua luta refletia nossa constante busca em se curar e solucionar aquilo que nos incomoda. Além disso, ela deixa a lição de que independente de qualquer coisa, jamais devemos deixar de doar amor. E se você reparar, ela foi elo para que os Crain recuperassem o real significado de família. Não é verdade?
Agora chegou a sua vez, me conte o que achou da série. Você conseguiu enxergar outros elementos que não falei aqui? Você acha que a Netflix acertou com essa série? Deixe seu comentário e vamos conversar.
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Até o próximo post 😉
Ficha Técnica:
Título original: TheHaunting of Hill House
Gênero: Terror, Drama
Digirido: Mike Flanagan
Elenco:CarlaGucino, Henry Thomas, Elizabeth Reaser, Kate Siegel, Michael Huisman, Oliver Jackson-Cohen, Timothy Hutton, Victoria Pedretti, Annabeth Gish, Robert Longstreet, entre outros.
Episódios: 10
TV: Netflix
País: EUA
Ano: 2018
Trailer: