Cassio Cipriano vai ativar sua nostalgia dos anos 2000, em um romance LGBTQIAPN+ cheio de reviravoltas. Seria nosso Heartstopper brasileiro?

Sk8er Boys: O Amor Está na Pista seria o nosso Heartstopper brasileiro? Afinal, ele fala sobre a descoberta de afetos e romances entre adolescentes LGBTQIAPN+, mas com uma diferença… a história se passa nos anos 2000. Uma época em que grandes nomes da música como Avril Lavigne, t.A.T.u., Linkin Park, Simple Plan, Evanescence e Nightwish estavam no auge, além de ícones da cultura pop como Lindsay Lohan, Paris Hilton, Britney Spears e o filme Meninas Malvadas. É pura nostalgia para quem viveu essa época.

Apesar de nos anos 2000 eu já estar na correria da universidade e do estágio, vivi essa era de ouro pré-redes sociais. Muitos dos sonhos e objetivos descritos por Cássio Cipriano no livro me lembraram dos meus próprios. Como o sonho de Caio de ser VJ da MTV. Eu também queria ser VJ, mas do Cine MTV, apresentado pela Marina Person. Inclusive, meus clipes favoritos tinham aquela pegada cinematográfica, como os do Bon Jovi, Evanescence, Linkin Park, Red Hot Chili Peppers, entre outros.

Você também sentiu a nostalgia bater forte? Porque foi exatamente o que aconteceu comigo ao ler Sk8er Boys: O Amor Está na Pista, do autor nortista Cassio Cipriano, diretamente do interior de Tocantins. Ele descobriu a paixão pela escrita ainda na escola, criando roteiros para peças de teatro.

Autor Cassio Cipriano segurando seu livro Sk8er Boys no formato físico e no kindle. Ambos próximos de seu rosto | Questão D
(Autor Cassio CIpriano | Fonte: Acervo do Autor)

E não para por aí! Cássio começou a escrever suas primeiras histórias em blogs, a partir de 2016, de forma independente – ou seja, somos colegas de trabalho, já que também escrevo para blogs. Em 2021, sua carreira decolou. Seu romance de estreia, Confluentes, foi finalista no Prêmio Caligari LGBTQIA+ e foi publicado no ano seguinte, 2022.

E depois de Confluentes, Cassio Cipriano teve outros lançamentos como:

  • Panetones Baratos – novela natalina
  • E Agora? – Conto
  • Depois do Futebol – Conto
  • O Amigo do meu Primo – Conto

Além de participar de antologias como:

  • Como se fosse 1989 – Contos inspirados nas músicas do álbum 1989 de Taylor Swift
  • Salém Queer – Contos de Halloween de autores brasileiros
  • Você não Está Sozinho: Reflexões sobre a Pandemia

E claro, a obra que estamos discutindo hoje, Sk8er Boys: O Amor Está na Pista, e sua continuação, Sk8er Boys: Uma Nova Aventura – breve terá análise aqui no blog. Cada capítulo do livro é inspirado em uma música de sucesso dos anos 2000, e o autor até criou uma playlist para te acompanhar durante a leitura, para você viver as emoções dos personagens como se estivesse assistindo a um filme.

IInclusive, escrevi este post ao som da playlist de Sk8er Boys. Clique aqui para ouvir também!

“Skate é um estilo de vida, é sensação de liberdade, mas também é sobre ter humildade e respeito ao próximo. Essa é a filosofia dos skatistas.” (Vitinho)

Ufa! Falei demais sobre nostalgia e cultura pop dos anos 2000…

Então chega de enrolação, vamos para a análise de Sk8er Boys e descobrir por que esse livro precisa estar na sua lista de romances aquileanos. Inclusive… acho que ele merece virar uma série da Netflix ou da Prime Video… Afinal, tá mais que na hora de termos o nosso Heartstopper, você não acha? Joguei para o universo.

Vem comigo porque o Questão D tá On!

Sk8er Boys: Adolescência de um LGBTQIAPN+ nos anos 00’s

Se você pudesse contar a história da sua adolescência, qual música seria a trilha sonora? E por quê? Afinal, música sempre carrega aquela carga emocional que lembra algum momento marcante de sua vida.

É assim que Cássio Cipriano abre o livro, com um capítulo inspirado em Welcome to My Life, da banda Simple Plan. Somos apresentados a Caio e Aurélio, dois amigos que moram em Porto Franco, no interior do Maranhão, e são os únicos garotos gays assumidos na escola.

Caio é fã de música desde criança, seu discman é seu melhor amigo, e o sonho dele é ser VJ da MTV. Ele conhece tudo sobre música e acerta muitas vezes, as tendências dos novos hits. Na infância, sofreu bullying por ser diferente e ser fã das Spice Girls. Quando um garoto o enganou escrevendo “eu sou viado” em sua testa, ao invés de “eu gosto de Spice Girls”. Um garoto vendo que ele estava sendo enganado o avisou e tenta ajudá-lo. Mas ele sai correndo assustado. E depois disso, seus pais o mudaram de turno para protegê-lo.

Aurélio, é apaixonado por moda e ele gosta de customizar suas roupas. Seu sonho é cursar uma faculdade de moda. Ele é filho único e foi criado só pela mãe, que teve que assumir o papel de pai após ser abandonada pelo seu pai – que não teve mais notícias. A mãe de Aurélio e a de Caio são amigas de infância, o que uniu ainda mais os dois garotos.

“Essas brincadeiras de mau gosto são cruéis, me fazem pensar que, quem faz isso comigo, ou com outras pessoas, não nos vê como seres humanos, não pensa nos nossos sentimentos.” (Caio)

Do outro lado da história, temos Vitinho, que ama desenhar e tem o skate como seu esporte favorito. Ele perdeu os pais em um acidente de carro quando era pequeno, por isso foi criado pela sua avó Carmelita. Foi durante esse período difícil que ele conheceu Bruno que foi praticamente irmão em sua vida, além de ser seu melhor amigo e parceiro no skate.

Bruno, conhecido como Cabeção, era um dos garotos que fazia bullying com Aurélio e Caio. Ele é filho dos advogados mais bem-sucedidos da cidade. Apesar de Bruno se dedicar ao máximo nos estudos, ele sofre pressão dos pais para seguir a carreira da família – já que sua irmã mais velha já deixou claro que não quer a advocacia em sua vida. Assim, ele descarrega toda essa pressão nas manobras de skate.

A vida desses quatro personagens muda quando a professora de inglês sorteia as duplas para um trabalho. Caio acaba fazendo dupla com Vitinho, e apesar da desconfiança inicial, eles se aproximam e descobrem um sentimento especial, sem saber que o sentimento é recíproco. Porém, Caio nem imagina que Vitinho já foi muito importante na sua vida no passado…

“Como vivemos em uma cidade pequena, cresci vendo o Caio de longe. Nos esbarramos ora ou outra pelos lugares, mas ele nunca me notou.” (Vitinho)

Imagem das pernas de um skatista na rua com um skate em 90º ao seu lado. Em uma rua escura | Questão D
( Foto de Adzarael Camacho | Fonte: Pexel)

Primeiros Afetos de um Adolescente LGBTQIAPN+ dos Anos 00’s

Falei bastante sobre nostalgia e identificação, mas agora vamos focar em algo mais específico: a adolescência LGBTQIAPN+ nos anos 2000. Esse é um período muito peculiar, especialmente para quem viveu a fase de descobertas de identidade e afetos, lidando com bullying e muitas vezes com comportamentos LGBTfóbicos dentro de casa.

É exatamente isso que o autor Cássio Cipriano aborda de maneira bastante sensível, ao mostrar que a amizade de Caio e Aurélio vai além da identificação, mas um suporte emocional diante dos desafios diários que os dois enfrentam.

Até porque, a adolescência de um LGBTQIAPN+ é marcada por questionamentos e inseguranças. E como Caio que é apaixonado por música, se entregar por completo às melodias, interpretá-las e senti-las é o que faz ele sentir-se bem. Enquanto que Aurélio usa sua paixão pela moda como uma forma de conexão e expressão de sua essência.

“Fico pensando que todos nós precisamos de pessoas ao nosso lado, de aliados, de gente que nos ame e nos compreenda. Sou feliz por ter o acolhimento da minha famíliae do meu melhor amigo que é como eu, mas é sempre bom ter mais gente que nos acolha, especialmente em um lugar como este.” (Caio)

Vale lembrar que apesar de Vitinho e Bruno, dançarem conforme a música de uma cidade do interior, os dois sabem que não se encaixam nos padrões de Porto Franco. E assim com Caio e Aurélio, se apegam às suas paixões pelo skate, desenho e estudos – respectivamente.

Então quando Caio e Vitinho entram em contato pela primeira vez com um sentimento que não estavam acostumados, vários questionamentos e inseguranças começam a surgir. E é exatamente aqui que o autor aponta como a sociedade interfere negativamente na adolescência, deixando-os confusos em nos caminhos que devem percorrer.

Por isso, o apoio de figuras como os pais de Caio e a mãe de Aurélio são essenciais, sinalizando como é importante um adolescente LGBTQIAPN+ ter um suporte e apoio de alguém responsável e de confiança, para terem um direcionamento seguro e acolhedor.

“Honestamente, não sei o que está acontecendo, mas sei que isto é algum efeito que o Aurélio tem causado em mim, e não é de todo ruim. É uma sensação boa, que eu nunca havia experimentado.” (Bruno Cabeção)

Como na conversa sobre sentimentos e relacionamentos entre Caio seu pai. É emocionante vê-lo comentando que o filho possui características parecidas com a dele, e que apesar de ainda estar aprendendo sobre seu mundo, sempre estará ali para apoiar o filho.

Uma outra cena marcante no livro, é quando Bruno Cabeção, revela a sua irmã que está sentindo algo diferente por um outro garoto, e Camila diz que sentimentos devem ser vividos e não serem explicados. Algo que chama atenção, porque ele fazia bullying com Caio e Aurélio, mas depois que ele foi chamado a atenção por Vitinho, ele começou a repensar seu comportamento e vivenciar seus sentimentos.

“Não desperdiça esse sentimento. Se você sente que é real, não fica pensando na possibilidade de levar um fora.” (Camila)

Até porque quando você descobre um pouco mais sobre a vida de Bruno, você comprova o quanto a falta de comprometimento dos pais, são cruciais na formação de valores em seus filhos.

foto de um skatista fazendo manobra sob efeito de parede de tijolos escuro | Questão D
(Foto de Morgan Wickens | Fonte Pexels)

Música e Cultura Pop como Ferramentas de Identidade LGBTQIAPN+

Um dos maiores destaques no livro, é a presença da música e da cultura pop em Sk8er Boys. Ela não apenas traz aquela nostalgia, como você descobre que ela também é usada como uma ferramenta de identidade por seu personagens.

Isso me fez voltar no tempo e lembrar dos meus prórpios momentos, assistindo MTV em 1997. Quando ela só pegava na frequência UHF em Belém do Pará – uma época que tv à cabo era apenas para quem era rico. Eu tinha aquelas TV de 14 polegadas de tubo, e a transmissão era um pouco chuviscada. Depois da aula e de estudar, eu a deixava ligada, enquanto esboçava meus primeiros desenhos inspirados nas HQ’s da Marvel e DC – porque não podia pagar um curso de desenho. E só depois de um tempo que surgiram uma variedades de revistas que ensinavam a desenhar.

E assim como Vitinho, desenhar era mais que um hobby, uma terapia. E como a MTV me proporcinou esses bons momentos em minha adolescência, que era deslocado e excluído na escola, foi que surgiu o desejo de ser VJ. Apesar de Sk8er Boys se passar em 2004, Caio Cipriano consegue ativar o seu “eu” do passado.

Até você entender que muito do que você faz hoje, tem influência do seus hobbies passados. Um exemplo disso é o Dandy Souza que deu seus primeiros passo nos desenhos, e hoje é um Web Designer e Videomaker. Inclusive o projeto Questão D nasceu inspirado na linguagem do antigo formato da MTV.

“O pessoal só fala no segundo álbum de Avril e na faixa ‘Don’t Tell Me’. A música está na trilha sonora de ‘Malhação’, que é basicamente como a maioria dos alunos se mantém informada sobre o que está bombando nas paradas de sucesso.” (Caio)

Por isso, Sk8er Boys vai muito além de um romance, ele lembra você da importância de abraçar sua essência e viver seus afetos com liberdade. E assim como seus personagens, eu usei a música como forma de expressão e refúgio.

Imagem de uma pessoa em cima de um skate, vestindo calças e tênis da cor azul escuro. E em sua frente um passoa sentada no skate, com calça e tênis escuros. | Questão D
(Foto de cottonbro studio | Fonte: Pexel)

Qual mensagem que Sk8er Boys: O Amor está na Pista de Cassio Cipriano?

Apesar de o autor focar no romance, ele deixar bem claro o histórico de limitações que a sociedade impõe sobre uma pessoa LGBTQIAPN+, especialmente na adolescência. Nessa fase, elas estão mais vulneráveis e precisam de apoio de alguém que seja consciente e responsável. Alguém que ajude a entender que não há nada de errado com eles e que os guiem para viver seus sentimentos de forma segura.

Além disso, os pais também precisam se permitir estar mais presentes na vida de seus filhos, evitando que eles sofram bullying em silêncio. Infelizmente, muitas escolas acabam sendo coniventes e só agem quando acontece um exposed – mesmo após várias denúncias nos setores que deveriam ser responsáveis.

Além disso, é super importante que adultos LGBTQIAPN+ estejam sempre atentos e ajudem na luta contra comportamentos e discursos LGBTQfóbicos. Até porque, muitos adolescentes não recebem o apoio necessário dos pais,e ter uma boa inspiração faz toda a diferença no crescimento deles.

“No fundo, sei que uma coisa dessas não se limpa da alma. É uma mancha que fica para todo o sempre. As lembranças podem se tornar borrões, mas não somem.” (Vitinho)

E você já leu Sk8er Boys: O Amor está na Pista de Cássio Cipriano? O que você achou? Você teve sua nostalgia ativada? Deixe seu comentário no Instagram.

Compartilhe esse artigo com aquele seu crush que gosta de romances aquileanos, quem sabem assim ele te nota.

Até o próximo post 😉

Livro k8er Boys no mockup de tablet e livro físico | Questão D

Ficha Técnica

Título: Sk8er Boys: O Amor está na Pista
Gênero: Romance
Autor: Cássio Cipriano
N° de Páginas: 363
Idioma: Português
Formato: Epub (Kindle)
Classificação Indicativa: A12
Data de Publicação: 28 de abril de 2023
Onde Comprar: Amazon

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Dandy Souza

Web Designer e Videomaker. Sou um caçador de "easter eggs"e ativista da cultura pop. Criei o "Questão D" para mostrar que sci-fi, terror e o suspense são gêneros que além de entreter, têm um papel social interessante e fora da curva.Seja bem-vindes, porque o Questão D tá On!
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