American Crime Story: The Assassination of Gianni Versace e seu estudo sobre os verdadeiros culpados do crime que marcou a década de 90. Descubra Por quê.
Se você é como eu e fica temeroso com o lançamento de uma nova série, só tenho algo a dizer: #TMJ. E com American Crime Story: The Assassination of Gianni Versace não foi diferente. Principalmente por ser baseada em uma história real. Quer dizer… em partes.
Vale lembrar que às vésperas de seu lançamento, uma treta foi formada entre a produção e a família Versace. E tudo isso porque a série foi baseada no livro Vulgar Favors, da jornalista Maureen Orth. Que desde seu lançamento em 1999, já não era visto com bons olhos pelos Versace – mas já, já conversaremos sobre isso.
Assim como estes, outros questionamentos surgiram no decorrer da temporada como:
- Por que o fatos foram contados ao contrário (do dia do crime à infância do criminoso)?
- Por que o título levou o nome de Gianni Versace, se o foco foi Andrew Cunanan?
- Qual o Propósito da Série?
Essas e outras perguntas, serão respondidas agora. Então pegue suas anotações e vamos às nossas comparações. E caso você ainda não tenha assistido, não se preocupe. Este post servirá de complemento e você verá a série com outros olhos.
Mas antes de nossa analise, vamos a um pouco de história. #PatiuACSReview
American Crime Story: The Assassination Of Gianni Versace | Resumo
Sem contar conversa, a série já começa com o assassinato do estilista, na entrada da Casa Casuarina. E as cenas seguintes serviram de reflexões ao público, sobre a postura do ser humano com a desgraça alheia. Ali vemos desde curiosos que não colaboram em nada, à abutres vendendo fotos do estilista agonizando – pesado né?
Além disso, Ryan Murphy não poupou em provar que as “histórias de crimes americanos”, são decorrentes de uma sequência de falhas – a famosa Teoria do Queijo Suíço de James Reason (1990).
Para que um acidente ocorra é preciso que uma falha consiga ultrapassar todas as barreiras de um determinado sistema.
James Reason
E o que dizer de um dos homens mais procurados dos EUA, que além de deixar rastros, conseguia fugir facilmente? Algo de errado não está certo aí, não é verdade? Afinal Andrew Cunanan já carregava 4 homicídios brutais nas costas. E precisou que uma celebridade fosse a próxima vítima para que as autoridades fizessem seu trabalho direito?
E se Ryan Murphy queria cutucar as falhas das autoridades, ele cutucou. Assim como no livro de Maureen Orth, ele reforçou que a demora nas investigações foram por homofobia dos policiais. E como um ícone da moda pagou pelo descaso, eles se viram obrigados a meter a mão na massa.
E conforme descobríamos o modus operandi de Andrew Cunanan, comprovamos que realmente o descaso ocorreu. Mas esse ato desumano não foi um mérito exclusivo da polícia, a mídia também teve sua parcela de responsabilidade.
Isso fica bem claro quando observarmos as reportagens sobre crimes, em que faziam questão de enfatizar que as vítimas eram gays, colocando o ato cruel em segundo plano. E já não bastava Jeff Trail (Finn Wittrock), David Madson (Cody Fern) e Lee Miglin (Mike Farrel) terem perdido suas vidas brutalmente, ainda tinham que ser vítimas do sensacionalismo dos jornais. Mas será que depois de 20 anos o quadro mudou?
Mas nem só de críticas sociais foi baseada a segunda temporada, mas de reflexões. Assim, tivemos um estudo de caso do perfil do assassino, com o foco em Andrew Cunanan.
E se você assistiu a série Mindhunter (Netflix), vai identificar uma das características estudadas sobre o perfil de um serial killer como: vítima de abuso sexual ou crescer em meio a um relacionamento abusivo. E Andrew Cunanan, estava dentro rol – pelo menos na série. E assim mostrando que todo mal tem sua origem.
E apesar do pouco tempo de tela de Gianni Versace, sua figura serviu como um comparativo entre os dois estilos de vida: O sucesso feito com o coração (Gianni Versace) e o sucesso temporário baseado na enganação (Andrew Cunanan).
Assim, enquanto Gianni teve o apoio de sua mãe, Franca (Francesca Fanti), para construir seu caminho de pedras, Andrew tornou-se um mitomaníaco (hábito de mentir) graças ao seu pai – Modesto Cunanan (Jon Jon Briones).
Assim, a produção optou em contar a história dentro de uma ordem cronológica regressiva, para enxergarmos o lado superficial e o psicológico machucado de Andrew Cunanan. Inclusive seu perfil foi bem semelhante ao de Norman Bates (Freddie Highmore) em Bates Motel. Que ao mesmo tempo que causava uma comoção, também causava uma repulsão. Então não se espante se em certos momentos você sentir pena dele, mas cuidado, as aparências enganam.
American Crime Story | Qual seu Verdadeiro Seu Objetivo
E se você fez parte daqueles que “decidiram esperar” a temporada finalizar, para assistir tudo de uma vez, só tenho algo a dizer: você tomou a melhor decisão. Porque você perceberá na íntegra os detalhes e às metáforas dentro da narrativa.
Agora se você foi daqueles que acompanhou semanalmente (como eu), provavelmente precisou rever alguns episódios. Mas Independente de sua opção, o que importa é que captamos alguns destes detalhes:
1-Andrew Cunanan: O Homem que Matou Gianni Versace
Como falei anteriormente, é indiscutível que The Assassination of Gianni Versace foi muito além de uma trajetória criminosa, mas um estudo de caso. E Darren Criss engajou o público com maestria revelando suas camadas sádicas e dramáticas.
E quando um ator consegue despertar essa dualidade de emoções, o seu papel foi cumprido. Além desconstruir aquela imagem meiga de Blaine Anderson da série Glee, transmitiu pelo olhar o conflito de seu personagem, e mostrando a que veio Andrew Cunanan:
Ele queria que soubessem a dor dele. Ele queria que ouvissem, queria que… queria que soubessem como é nascer como uma mentira.
Além disso, a opção de contar sua história de trás para frente, tem a ver com a forma como a sociedade enxergava os crimes na década de 90, ou seja, o famoso extremismo – ou 8 ou 80.
Mas a partir do momento que entramos em sua infância a figura sádica, dá lugar à criança profundamente machucada por alguém que deveria passar segurança, o pai Modesto Cunanan – que abusava-o sexualmente.
E apesar de ser baseados em fatos reais, pelo menos no livro, muitos fatos foram alterados à título de dramatização.
Inclusive gravei um vídeo falando sobre os fatos reais sobre Andrew Cunanan – um dossiê baseados em reuniões de reportagens. Descubra as diferenças entre ela no vídeo abaixo.
2- Critica Social: Homofobia
Assim como em American Horror Story: Cult Ryan Murphy fez questão de deixar sua crítica social aqui em The Assassination of Gianni Versace. Enquanto a AHS abordou a política do medo, a ACS tem a homofobia como pano de fundo.
E no decorrer da temporada isso é espalhado de forma quase imperceptível, para testar o grau de percepção do público. E com o apanhado geral em seu último episódio, foi dado um soco no estômago, sem dó e nem piedade, de uma vez só.
Assim, ficou claro que tanto o descaso da polícia, quanto o desrespeito da mídia para com os gays, contribuíram para a incompetência nas investigações. E isso ficou bem evidente durante o interrogatório de Ronnie (Max Greenfield) à polícia:
Está tão acostumado que fiquemos nas sombras, e a maioria de nós permite isso. Pessoas como eu, apenas desvanecemos. Ficamos doentes e ninguém liga.
E ao resgatarmos outros episódios, estes atos desumanos eram comprovados tristemente. Inclusive a cena que os políciais encontram o corpo de Jeff Trail (Finn Wittrock) foi uma delas – em que não deram a devida importância, porque a vítima era gay.
Como Ronnie Holston (Max Greenfield) disse, precisou que a vítima fosse uma celebridade para a polícia fizesse seu trabalho direito.
Outro momento que reforçou esse descaso é o questionamento de Marilyn Miglin (Judith Light), a viúva de Lee Miglin (Mike Farrel), ao policial:
Quando isso vai acabar? Me diga! Quantos mais vão morrer? Quanta dor acha que posso aguentar? Dois meses… Você teve dois meses… Tinha seu nome, sua foto, o que ele tinha? O dinheiro que ele roubou do Lee? O que ele fez esses dois meses?
Outro momento que refletia a discriminação foi na cena do funeral de Gianni Versace que seu companheiro Antonio D’Amico (Rick Martin) não recebe a benção do padre. Ali de forma representativa resgatou a máxima “nem todos que dizem, senhor, senhor, entrarão no reino dos céus”.
Afinal de contas, qual o mérito de alguém que prega o amor ao próximo e a caridade, nega dar a benção à um filho de Deus? Mas também a cena serviu para o resgate de que apesar de ser um padre, ele também é um homem que precisa enraizar o que é pregado, e não ser tomado pela hipocrisia. Vale lembrar que só quem tem o poder julgar é Deus.
3-Por que Gianni Versace, se o Foco foi Andrew Cunanan?
Por mais estranho que pareça, essa pergunta foi respondida em doses homeopáticas. E a principal delas tem a ver com a proposta da série, evidenciar as falhas nos bastidores dos maiores crimes americanos.
Sendo assim, os bastidores de Gianni Versace serviram apenas como um comparativo à vida de Andrew Cunanan. Enquanto um construiu um caminho do sucesso, o outro viveu em uma mera ilusão. E apesar de ser um dos homens mais procurados dos EUA, seu nome só tonou-se conhecido depois que tirou a vida de uma celebridade.
Andrew não está se escondendo, Ele está tentando ser visto.
Além disso, não havia como abordar algo aprofundado sobre a intimidade de Gianni Versace, depois da treta com os familiares. Até porque é um assunto delicado que ainda mexe até com outros familiares das vítimas de Andrew.
4-A Treta Com a Família Versace
Se por um lado a internet ficou empolgada, por outro a família Versace ficou indignada. Então chegou a hora de entender os reais motivos Guerra Fria.
A treta começou desde lançamento do livro Vulgar Favors da jornalista Maureen Orth em 1999. Que segundo os Versaces, seu conteúdo não passava de fofocas e especulações, e que não refletiam a essência de Gianni Versace.
Apesar do repúdio declarado, Maureen Orth especificou que apesar de compreender a dor da família Versace, sua obra foi baseada em um árduo trabalho de pesquisa, envolvendo 400 entrevistas e análises de 1000 documentos do FBI.
Sendo assim, seu objetivo principal foi recriar a investigação policial e entender o que de fato deu errado. Até porque era difícil entender como alguém era caçado nacionalmente e conseguia fugir sem deixar rastros? E foi graças a sua persistência que ela descobriu o foco principal: a Homofobia dos policiais.
E assim como na temporada de The People vs O. J. Simpsom, em The Assination of Gianni Versace repetiu a fórmula de focar nos erros que causaram mais dores e vítimas.
5 – Qual o Propósito de American Crime Story?
A principal mensagem que tiramos desta temporada foi que: devemos sempre olhar além do superficial e focar no que realmente é importante.
E que não sejamos os policiais e a mídia da vida, que focaram na intimidade das vítimas, ao invés do crime brutal. Ou então hipócritas que nem o padre, que prega a lei de amor, mas é incapaz de amar o próximo. E até mesmo abutres sem escrúpulos, vendendo fotos de vítimas agonizando.
Além disso, a série abordou a importância em dar atenção aos reais valores de vida. Sendo que onde há terra boa, há bons frutos. Como o caso de Mary Miglin que descobre que seu marido assassinado, ajudou muitas pessoas em segredo. Sendo assim, esta seria a imagem que ela eternizaria: a de um homem bom. Será que você teria essa maturidade?
Diante disso, mais um destaque foi concluído com sucesso. Vale lembrar que apesar da série ser baseada em fatos reais, alguns deles foram modificados à título de dramatização como:
- O abuso sexual que Andrew Cunanan sofria do pai
- A foto sem camisa do anuário de Andrew Cunanan,
- O estado deplorável de Antonio D’amico.
- entre outros.
Além disso, algumas destas invenções, serviram de ilustração à metáfora do “desenhando sua trajetória”. Em que Gianni e Andrew cresceram considerados especiais, porém em diferentes interpretações. Enquanto Gianni Versace era especial por construir seu caminho de pedras com amor. Andrew Cunanan presisava correr atrás do sucesso através de mentiras e traições para ser especial – ou seja, um castelo de areia que seria derrubado com o vento.
Não se trata de persuadir as pessoas que fará algo grande. Trata-se de fazê-lo
E aí? Qual foi sua experiência com essa temporada de American Crime Story? Eu esqueci algum detalhe? Deixe seu comentário.
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Até o próximo post 😉
Ficha Técnica:
Título Original: American Crime Story: The Assassination of Gianni Versace
Gênero: Drama
Dirigido por: Daniel Minahan, Gwyneth Horder Payton, Matt Bommer, Nelson Cragg, Ryan Murphy
Elenco: Darren Criss, Edgar Ramirez, Penélope Cruz, RIcky Martin, Cody Fern, Max Greenfield, Jon Jon Briones, Judith Light, Mike Farrel, entre outros.
Episódios: 9
País: EUA
Ano: 2018
Trailer:
