Como Imaculada (2024) usa o terror religioso para falar sobre abusos e violência contra a mulher? A vida imita a arte novamente? Descubra agora.

Imaculada (2024) é a prova que nem todo milagre é divino. E se tratando da máfia do anticristo nas instituições religiosas, é possível questionar e refletir o papel de líderes religiosos em ditar regras no corpo feminino. Sim, você já viu esse enredo em outros filmes, mas… que tal abordar essa história dentro de um prisma científico e social? Afinal o terror sempre teve um papel importante além do entretenimento: provocar você a refletir sobre comportamentos, sociedade e até mesmo política, fora da curva.

Quando Sydney Sweeney lançou sua produtora em 2020, as Fifty-Fifty Films, ela tinha como propósito criar suas própias oportunidades em Hollywood, já que este é uma cenário dominado por homens – que além de receberem ofertas com mais facilidade, têm o poder de escolher quais deles desejam trabalhar. Ao contrário da mulher que precisa lutar constantemente para provar o seu valor e ter algum reconhecimento. Logo, entre esperar um reconhecimento ou arriscar, Sydney Sweeney escolheu a segunda opção.

Como mulher, sinto que tenho que criar oportunidades para mim. Acho que temos que provar a nós mesmas repetidamente – e ainda não obter reconhecimento. Tenho que construir e criar os projetos dos quais eu quero fazer parte.
– Sydney Sweeney (Variety)

E Imaculada (2024) é mais uma prova de como as oportunidades de Hollywood são limitadas. Isso porque quando tinha 16 anos, Sydney Sweeney fez o teste para este filme. Mas seu roteiro promissor não foi suficiente para levá-lo adiante, e o projeto foi engavetado. Agora corta para 2020, ela lança sua produtora e resgata o roteiro do limbo e algumas pinceladas, trazendo temas contemporâneos.

O roteiro existe há 10 anos – eu fiz o teste para ele quando tinha 16 anos. E foi um rascunho muito diferente. Liguei para o escritor, Andrew Lobel, e peguei o rascunho limpo e original, depois o retrabalhei para se adequar a quem sou hoje, mantendo muitos dos mesmos temas e histórias. 

– Sydney Sweeney (Variety)

Vale lembrar que o tema do “retorno do messias” e “nascimento do anticristo” não é algo novo na cultura pop. Até porque milagres e seitas sempre chamaram atenção do público. Mas a partir do momento que Imaculada (2024) resolve recheá-lo com debates sociais, científicos e religiosos, e jogar luz a casos de fanáticos religiosos que cometem crimes usando o nome de Deus, você percebe o quanto isso acontece na vida real.

Principalmente quando resgatamos escândalos envolvendo instituições tradicionais que mesmo com denúncias e evidências fortes para condená-las, são varridos para debaixo do tapete pelo alto escalão…

Quer descobrir como transformar um filme de terror em um debate político e social sem precisar inventar a roda? Imaculada (2024) responde. Vem comigo, porque o Questão D tá On!

Sydney Sweeney vestida de noviça. Ela está dentro de um carro e a imagem do vidro refletindo sua viagem | Imaculada (2024)
(Sydney Sweeney é irmã Cecilia | Cena de Imaculada)

Imaculada (2024) | A Religião Permite Isso?

Se tem algo que chama atenção em Imaculada (2024) é a forma como ele aborda o modus operandi que fanáticos religiosos usam para cometer crimes contra a mulher, de forma brutal e impiedosa. Inclusive a cena do confessionário entre Cecilia (Sydney Sweeney) e o Cardeal Franco Merola (Giorgio Colangeli) é bem cirúrgica sobre esse traço insano e doentio.

Afinal, no momento que a irmã confronta o Cardeal e diz que tudo que eles estão fazendo no convento, é contra a vontande de Deus; Ele audaciosamente responde: “Se o que eles estão fazendo é contra a vontade de Deus, então por que ele permitiu que acontecesse? Se aconteceu, é porque ele quis que assim fôsse”.

Um recorte não muito distante das denúncias envolvendo a Igreja Católica em escândalos de abusos sexuais. Inclusive, muitas delas enterradas com a ajuda de advogados, políticos e pessoas próximas do alto clero. Como as acusações de Bento XVI em acobertar casos de pedofilia quando ele foi cardeal. Essa era uma das muitas controvérsias que envolveram seu nome por muito tempo, e que motivaram a sua renuncia em 2013, e resgatasdas no dia de sua morte 31/12/2022.

Outro debate presente no filme é o aliciamento do Padre Tedeschi (Álvaro Morte) às irmãs dos conveto. Afinal, ele é responsável direto pelo recrutamento e transferências de todas para a Itália – quando elas se encontravam em um momento de grande vulnerabilidade. Não é à toa que irmã Gwen (Benedetta Porcarolli) diz a Cecilia que o padre tem um dom de farejar pássaros feridos, dando entender desde começo que ela não caiu nesse papinho de bom moço – errada não tá.

Até porque, Padre Tedeschi tinha uma “missão” (insana): recriar o retorno de Cristo ao mundo, a partir do DNA do prego que ele foi crucificado. Mas para isso, era necessário encontrar a “mãe virgem” escolhida, que daria luz a criança que poderia ser ou messias, ou o anticristo…

Agora você já sabe. Quando perguntarem o que acontece quando você mistura fanatismo religioso e ciência, mostre a foto do Padre Tedeschi e do Cardeal , porque eles preenchem todos os requisitos da insanidade.

Giorgo Colangeli caracterizado como Cardeal. E Álvaro Morte caracterizado como padre | Imaculada (2024)
(Giorgo Colangeli e Álvaro Morte | Cena Imaculada)

A Evolução do Estereótipo da “Final Girl”

Quebrar estereótipos é um item básico de um bom filme de terror. E não precisa ser radical, apenas fora da curva, como as Final Girls que sempre estão se reinventando com o passar dos anos – e novamente isso aconteceu aqui em Imaculada (2024).

Isso porque Cecilia (Sydney Sweeney) possui características de uma Final Girl típica dos anos 70 e 80: cuidadosa, não usava drogas, virgem… ou seja, ela preenchia todos os requisitos da moral e bons costumes conservadores. Só com um pequeno detalhe, o seu maior inimigo aqui é sua gravidez “imaculada”, que de milagrosa não tinha nada.

Afinal, a coitada estava vivendo uma gravidez indesejada, sem autonomia e pressionada por seus superiores do convento – fugindo 100% de seu propósito. Sem contar que ela sabe que cientificamente é impossível uma gravidez dar início sem um contato íntimo ou sem fluidos corporais. Por isso, ela não é idiota e sabe que tem algo de errado nesse processo.

Até porque desde início do filme, você percebe o quanto Cecilia não é inocente e nem vulnerável. Uma prova disso é a sua postura firme e segura, durante seu processo de imigração. Apesar do constrangimento e desrespeito das autoridades, com seus comentários machistas, ela não deitou e foi assertiva sobre respeitá-la enquanto pessoa.

Outra provocação que o filme faz é questionar: “Se uma concepção imaculada acontecesse nos dias de hoje a Virgem Maria seria banida pelo fanaticos religioso? Qual seria o destino daqueles que tentassem impedir as insanidades como o do padre Tedeschi, da Madre Superiora e do Cardeal? Será que seria silenciado como a irmã Gwen que tentou abrir os olhos de Cecilia ao questionar porquê nunca permitiram que um obstestra a examinasse?

Álvaro Morte (à esquerda) vestido de padre, Benedetta Porcarolli (ao meio) vestida de freira e Sydney Sweeney (à direita) vestida de freira  | Imaculada (2024)
(Álvaro Morte, Benedetta Porcarolli e Sydney Sweeney | Cena de Imaculada)

A verdade é que por mais que Cecilia estivesse cercada de mistérios, ela sempre teve os pés no chão. E não media esforços para encontrar respostas – mesmo que elas estivessem fora de sua esfera religiosa. Subvertendo assim, aquela antiga ideia que a Final Girl virgem era sinônimo de inocência e vulnerabilidade que precisava ser salva por alguém. Muito pelo contrário, a partir do momento que ela descobriu que foi enganada e abusada o tempo todo, ela mesma faz questão de mostrar quem dita as regras de seu corpo.

Confesso que gostei da produção trazer a narrativa da “máfia do anticristo” dentro de um olhar social, científico e religioso. Principalmente quando você tem um lançamento muito próximo de “A Primeira Profecia (2024)” – um cânone do filme A Profecia (1976), que usa a mesma narrativa: de encontrar um ventre perfeito para dar a luz ao anticristo. Inclusive você assistindo os dois juntos, você tem uma impressão de estar lidando com um ctrl + c, ctrl +v. Mas tudo depende de qual você assistirá primeiro, até porque a primeira impressão é a que fica.

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Como assisti Imaculada antes, posso afirmar que chamou mais minha atenção, principalemnte pelo debate sobre violência e a culpabilização das mulheres abusadas, serem próximo do real – tornando o filme profundo e interessante.

Afinal, Cecilia foi violada para dar luz a uma recriação genética de Cristo. Além de não ter sido consensual – e sim um estupro – a igreja queria forçá-la a prosseguir com uma gravidez, fruto de um crime. E transformá-la em vilã por tentar interrompê-la. Um cenário não muito diferente de casos de acusados de crimes sexuais, sendo inocentados ou tendo suas penas anuladas, mesmo com uma lista enorme de evidências, enquanto as vítimas são culpabilizadas e desemparadas.

É sério que a justiça está criando mecanismos para enfraquecer o apoio as vítimas de violência física e sexual? Deixo aqui a reflexão…

Vale lembrar que Imaculada (2024) bebe da fonte dos clássicos de terror, como o Bebê de Rosemary (1968) de Roman Polanski, que apesar de antigo, ele aborda sobre violência doméstica e sexual que perpetuam até hoje. Inclusive, é importante lembrar que Roman Polanski foi condenado em 1978 por drogar e estuprar uma adolescente de 13 anos, ele fugiu dos EUA para França, onde mora até hoje, para não cumprir pena. Curioso né? Mas isso é uma assunto para outro dia.

Sydney Sweeney com o rosto sujo de sangue e com olhos de assustada | Imaculada (2024)
(Sydney Sweeney | Cena de Imaculada)

Assim, Imaculada (2024) entra no rol dos filmes de terror psicológico que tem muito o que conversar, é honesto e não tem medo de abordar temas polêmicos de nossa sociedade. Até porque o segredo de um bom terror não é ser inovador ou revolucionário, e sim relevante, atemporal e aberto para várias interpretações. Não é verdade?

Você assistiu Imaculada (2024)? Você identificou outros elementos que não mencionei aqui? Lembre-se, a sua impressão e experiência é que importa. okay?

Compartilhe esse post com aquele seu crush que é fã de terror e Sydney Sweeney. Assim vocês tem muito assunto para conversar.

Até o próximo post 😉

Assista o Web Story Abaixo:

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Dandy Souza

Web Designer e Videomaker. Sou um caçador de "easter eggs"e ativista da cultura pop. Criei o "Questão D" para mostrar que sci-fi, terror e o suspense são gêneros que além de entreter, têm um papel social interessante e fora da curva.Seja bem-vindes, porque o Questão D tá On!
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